terça-feira, 13 de junho de 2017

O que sinto falta hoje na mídia

Até outro dia o que mais me incomodava na imprensa brasileira, em toda a mídia, mas sobretudo nos noticiários dos telejornais das tevês, era a parcialidade política, quase um engajamento político partidário, porque a imprensa demonstra que tem um lado, nem sempre de maneira clara e ostensiva, mas toma partido por esse ou aquele lado da moeda ou por um determinado projeto de país. E isso vem de longe, por exemplo o grupo Globo com o seu jornal e a sua tevê, durante a ditadura militar era, na minha visão, praticamente o órgão oficial do regime. Então de lá pra cá, venho mantendo uma relação bastante ambígua e desconfiada com a grande mídia brasileira. Lembro, que mesmo durante a vida útil do Jornal do Brasil, nos anos setenta e oitenta, que tinha grande prestígio como órgão sério e recebia um grande respeito por parte dos outros órgãos de mídia e da própria sociedade carioca da época, porque sabíamos que sofria uma enorme pressão da censura, para impedi-lo de ser mais claro e explícito, o que fazia com que o lêssemos procurando como quem usa lupa, nas suas entrelinhas alguma mensagem cifrada, que nos revelasse algo obscuro, que estivesse sendo feito contra algum desaparecido ou outra conspiração maluca à vista. É claro, que com o cerceamento das notícias reais do dia a dia, que a verdade nua e crua dos fatos fosse rara, já que a ditadura controlava tudo o que podia ou não ser divulgado, que tudo isso provocava na audiência, cada vez mais, uma enorme avidez por notícia, queria-se saber muito e de tudo, havia essa demanda. Foi então, que começaram a surgir os primeiros tabloides, hebdomadários, ou seja o jornal semanal, publicado apenas uma vez por semana, na busca por preencher aquela lacuna. O primeiro deles a alcançar grande projeção e tiragem foi o Pasquim ainda no final dos anos sessenta. Enquanto o Pasquim atuava mais na linha do humor, nos anos setenta apareceu numa linha e postura mais séria e intelectual o Opinião e logo em seguida o Movimento,  e depois vieram muitos outros, que preencheram em parte aquela enorme lacuna e demanda por mais informação, e informação de qualidade. Tenho até hoje um exemplar do Opinião com uma longa e memorável entrevista do filósofo francês Jean-Paul Sartre por ocasião dos seus 75 anos. Desde então venho acompanhando o que é publicado sobre os fatos mais relevantes da vida do país. Até acontecer o fatídico domingo 17 de abril de 2016, quando o Congresso todo virou um grande centrão, e assistimos atônitos, como se comportaram ao serem chamados para dar o voto cassando a presidente. Se durante o período janguista havia pelo menos o jornal Última Hora para defender o governo eleito contra todos os outros grandes jornais. No período dilmista não havia nenhum, apenas os chamados blogs sujos fizeram a defesa do governo na luta político ideológica. Contra a difamação gratuita, contra a desqualificação pura e simples e sem argumento, e contra todas as mentiras plantadas, uma verdadeira lavagem cerebral, o que era muito pouco para fazer frente ao rolo compressor da grande mídia opositora. O que fez com que, em muito pouco tempo, um governo que tinha até junho de 2013 uma avaliação favorável em torno de 70%, desabasse por ocasião da cassação na Câmara, para algo em torno de apenas 10%. Apesar de ter sido, às duras penas, reeleita nas eleições de 2014. De lá pra cá, parei de comprar jornais impressos, e mesmo na internet não procurei mais me informar através desses veículos, e me afastei também dos telejornais. Somente a partir da delação premiada do Sr. Joesley Batista, de quem não tinha a menor ideia de como era a cara, embora já o conhecesse de nome, principalmente depois que se tornou marido da jornalista da Band. Despertado por esse episódio particular, voltei a me interessar pelos telejornais ao vivo. E para minha surpresa, surgiu nesse novo flirt com a mídia, uma demanda diferente, agora não cobro mais da mídia “menos parcialidade” ou partidarismo, porque sei que é utópico. Agora grita aos olhos a falta de aprofundamento do que é noticiado. Como sinto falta do comentário de alguém mais gabaritado! Que interpretasse o conteúdo factual e no final ainda desse uma opinião. Não tem, e quando tem é muito pouco e limitado, quase travado, o que deixa toda a gente frustrada. Parece que os jornalistas comentaristas e formadores de opinião não querem se comprometer, ou são orientados a agir assim, ou os que lá restaram não tem competência mesmo.

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