segunda-feira, 9 de maio de 2016

Dilemas




Acho que uma das primeiras frases, que saiu da boca de Rui, quando o conheci, foi sobre idade, 56 ou 57 anos, não lembro mais o número certo. Logo em seguida, após meia hora de conversa, deu para sacar que se tratava de mais um maior abandonado carente, mais um solitário à solta, a procura de alguma coisa, ou não, recolhido em algum canto da cidade aguardando algum milagre ou sorte, que a vida mande bater na porta.
No caso de Rui, não vamos cair no ridículo em falar em sapatinho de cristal, ou coisa parecida, pois trata-se de um marmanjo de 56 anos, muito forte, cheio de músculos, atarracado, viril, aparentemente hétero, que gosta de falar que é feio, o que em contraposição, contra argumentei afirmando tratar-se de um falso feio, que aceitou de bom grado, apesar de pouco demonstrar, senti uma leve presença de prazer em sua face, após falar em falso feio. A história dele é muito comprida, mas posso adiantar alguma coisa em forma de uma leve pincelada, para os leitores entenderem um pouco, sobre quem é o nosso amigo Rui. Conta que em seus bons tempos, quando chegava num forró em busca de mulher, era um problema danado, porque para todo lado que olhava, só via mulher que ele já tinha pego, comido, saído, tudo.
Lembrou de quando, chegando na festa com um parceiro de copo, amigo de bar, que evitava, porque preferia sair sozinho. Contou que era comum, quando chegava com o amigo, ficava cada um de seu lado apontando as vítimas, que já tinha passado na cara, na vara, ou já tinha comido, que era como preferia dizer. Mesmo sem ter perguntado nada a respeito, sentiu a necessidade em falar, que estava pobre agora, mas que já teve tudo, vivia muito bem, tinha carro do ano, que trocava sempre, tinha tudo que precisava e mais alguma coisa, que poupava sempre que possível, e por aí a fora. Continuou narrando e contando uma parte da sua vida passada, que recorda com certa nostalgia, embora afirme, aqui e ali, que se sente mais feliz agora, o que não me convence nem um pouco, mas procuro demonstrar interesse em sua história, e ele prossegue. Disse que tudo aconteceu em 2013, profissional autônomo no ramo de instalação elétrica de casas, apartamentos, lojas e salas comerciais. Sofreu um ataque de surpresa, numa certa ocasião, por um possível namorado enciumado de alguma das suas mulheres, alguma das suas comidas. Atacado à faca, quase perdeu a vida, mesmo assim teve que passar muito tempo no hospital, e depois mais algum tempo em fisioterapia. Por ser autônomo, e não podendo trabalhar, depois do ataque precisou vender quase tudo que possuía, para sobreviver. Foi assim, que perdeu tudo, e por isso estava levando hoje uma vida de pobre, de duro, quase sem dinheiro, e daí não ter mais motivação para voltar aos bailes e forrós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário