Acho que uma
das primeiras frases, que saiu da boca de Rui, quando o conheci, foi sobre idade, 56 ou 57 anos, não lembro mais o número certo. Logo em seguida, após meia
hora de conversa, deu para sacar que se tratava de mais um maior abandonado
carente, mais um solitário à solta, a procura de alguma coisa, ou não,
recolhido em algum canto da cidade aguardando algum milagre ou sorte, que a
vida mande bater na porta.
No caso de Rui, não vamos cair no ridículo em falar
em sapatinho de cristal, ou coisa parecida, pois trata-se de um marmanjo de 56
anos, muito forte, cheio de músculos, atarracado, viril, aparentemente hétero,
que gosta de falar que é feio, o que em contraposição, contra argumentei
afirmando tratar-se de um falso feio, que aceitou de bom grado, apesar de pouco
demonstrar, senti uma leve presença de prazer em sua face, após falar em falso
feio. A história dele é muito comprida, mas posso adiantar alguma coisa em
forma de uma leve pincelada, para os leitores entenderem um pouco, sobre quem é o nosso
amigo Rui. Conta que em seus bons tempos, quando chegava num forró em busca de
mulher, era um problema danado, porque para todo lado que olhava, só via mulher
que ele já tinha pego, comido, saído, tudo.
Lembrou de quando, chegando na
festa com um parceiro de copo, amigo de bar, que evitava, porque preferia sair
sozinho. Contou que era comum, quando chegava com o amigo, ficava cada um de
seu lado apontando as vítimas, que já tinha passado na cara, na vara, ou já
tinha comido, que era como preferia dizer. Mesmo sem ter perguntado nada a
respeito, sentiu a necessidade em falar, que estava pobre agora, mas que já
teve tudo, vivia muito bem, tinha carro do ano, que trocava sempre, tinha tudo
que precisava e mais alguma coisa, que poupava sempre que possível, e por aí a
fora. Continuou narrando e contando uma parte da sua vida passada, que recorda
com certa nostalgia, embora afirme, aqui e ali, que se sente mais feliz agora,
o que não me convence nem um pouco, mas procuro demonstrar interesse em sua
história, e ele prossegue. Disse que tudo aconteceu em 2013, profissional autônomo
no ramo de instalação elétrica de casas, apartamentos, lojas e salas comerciais.
Sofreu um ataque de surpresa, numa certa ocasião, por um possível namorado enciumado
de alguma das suas mulheres, alguma das suas comidas. Atacado à faca, quase
perdeu a vida, mesmo assim teve que passar muito tempo no hospital, e depois
mais algum tempo em fisioterapia. Por ser autônomo, e não podendo trabalhar, depois do ataque precisou vender quase tudo que possuía, para sobreviver. Foi assim, que perdeu
tudo, e por isso estava levando hoje uma vida de pobre, de duro,
quase sem dinheiro, e daí não ter mais motivação para voltar aos bailes e forrós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário